Visitando a Bíblia: Ócio e lazer

Muitas vezes li ou ouvi – e você certamente também – a frase “O trabalho dignifica o homem” (leia-se ‘o ser humano”). Será mesmo?  O trabalho duro e estafante confere dignidade ao ser humano? Veja, por exemplo, o trabalho dos lixeiros, dos varredores de rua, das pessoas que limpam banheiros em supermercados, rodoviárias, aeroportos e escolas. Pense também nas pessoas que passam o dia carregando peso no cais do porto ou em qualquer outro lugar. Da minha infância, lembro do serviço dos cubeiros que recolhiam os cubos cheios de fezes nas patentes nos fundos das casas, trocando-os por cubos limpos cheirando a creolina.

Claro, há também aquelas pessoas que trabalham em escritórios limpos e com ar condicionado, mas também estas ficam felizes quando o expediente acaba e podem voltar para o aconchego de suas casas. A alegria está no ócio, no lazer!

Karl Marx fazia uma distinção entre trabalho e arte. Trabalho é aquela atividade que sou obrigado a fazer, com horários fixos e prazo estabelecidos, em troca da qual recebo um salário que me garante o sustento. Arte é aquela atividade que faço por gostar dela. Não há obrigação. Há alegria em realizá-la. Um bom exemplo é o do pintor que pinta um quadro. Não pretende vendê-lo. Pinta-o por prazer. O mesmo vale para um músico que está a compor uma nova canção ou outra peça musical. A arte não cansa do mesmo modo que as outras atividades. Ela dá prazer ao artista.

Na Bíblia, o ser humano recém-criado por Deus é colocado num jardim, o jardim do Éden, onde ele não precisa trabalhar. Tudo está à sua disposição.  Sua única tarefa é cuidar do jardim e dar nome aos animais. Apenas após a queda, ao ser expulso do paraíso, ele recebe como castigo e maldição o trabalho: “Maldita é a terra por tua causa; em fadiga obterás dela o sustento. (…) No suor do teu rosto comerás o teu pão (…)” (Gn 3.17b.19).

O paraíso pelo qual esperamos é um lugar de ócio e de lazer.

P. Dr. Carlos Arthur Dreher
(Professor e Pastor aposentado da IECLB)