No Campus das Faculdades EST tem um monumento com um busto de Lutero em homenagem aos 180 anos da presença Luterana no Brasil. A homenagem aconteceu por ocasião do XXVI Concílio da IECLB em outubro de 2004. Agora, já estamos celebrando os 200 anos da presença luterana no Brasil, mas ainda nos chama a atenção uma frase de Lutero destacada no monumento: “Observa o que Cristo fez por ti e por todos, de forma que aprendas o que deves fazer em favor dos outros”.
Lutero nos chama a observar o que Cristo fez por ti, o que nos leva a uma resposta pessoal. Não há possibilidade de seguirmos a Cristo sem reconhecer que nele a graça de Deus nos alcançou e nos libertou para uma viva esperança de redenção diante de Deus. É pessoal o aceite da graça de Deus.
Para não ficarmos presos a uma fé individualista, Lutero acrescenta que a ação salvífica em Cristo é para todas as pessoas. Portanto, o aceite pessoal da graça de Deus em Cristo é universal e não pode ficar restrito à compreensão de que “a minha fé basta”.
É no aprendizado do que Deus fez em Cristo por nós que encontramos as outras pessoas. Não podemos viver a nossa fé em Cristo individualmente e isolados das outras pessoas. Deus deseja que todas as pessoas sejam alcançadas pela sua proposta de salvação.
Como sociedade brasileira, estamos no meio de uma confusão de conceitos relacionados à fé cristã. O uso do evangelho para ganhar dinheiro e poder perverte o evangelho. Os meios de comunicação, que atingem individualmente as pessoas, criam um individualismo perigoso, agressivo e militante. Na disputa por adeptos, a ética, inerente à fé cristã, desaparece.
A nebulosa que envolve a pregação do evangelho nos faz voltar para o simples. É preciso dizer o óbvio. Neste sentido, a frase de Lutero nos ajuda. Primeiro, é necessário reconhecer o que Cristo fez individualmente por cada pessoa. Segundo, é viver outro fundamento de fé cristã: a fé não tem sentido sem a figura de outra pessoa. Na parábola do Bom Samaritano, Jesus diz que o próximo é aquele que estende a mão ao homem caído (Lc 10.25-37). A pessoa que aceita a graça de Deus em Cristo precisa se tornar o próximo, a próxima das pessoas que necessitam de uma mão estendida para anunciar-lhes o feito de Cristo por todas as pessoas.
Em tempos de milhares de receitas para a vivência da fé e da espiritualidade, Cristo, as escrituras, a fé e o aceite da graça de Deus trazem tranquilidade e paz para sermos o próximo, a próxima de quem sofre pelos caminhos da vida. Amém!
P. Carlos E. M. Bock- Pastor Sinodal