Pensar em Pátria amada, idolatrada, salve, salve! certamente gera curiosidade. Acredito que a curiosidade é para saber se a opinião de quem escreve é favorável ao próprio conceito de pátria, ou contra. O conceito de pátria é controverso. Pessoas cristãs têm dupla cidadania. Também temos cidadania no céu, como afirma o Apóstolo Paulo em Filipenses 3.20: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”.
Como pessoas cristãs, incluídas na comunidade Cristã pelo Batismo e reunidas na Ceia do Senhor, fazemos parte do corpo de Cristo. Nele, nos tornamos um só corpo. O Batismo e a Ceia são sinais da pátria celeste. São os sacramentos que nos possibilitam experimentarmos um aperitivo da pátria celeste. A característica fundamental dos sacramentos é a inclusão e a comunhão. Para nos incluir na pátria celeste e nos dar nela cidadania, Cristo veio a este mundo para mostrar sinas do Reino de Deus. Ele é o ponto de convergência para a nossa dupla cidadania. Como pessoas cristãs, somos chamadas a exercer com responsabilidade a nossa dupla cidadania. Sem ele, só temos uma cidadania, a terrena, governada pelos desejos humanos.
Está muito complexa a vida na pátria terrena e, especialmente, na pátria Brasil. Nós temos uma responsabilidade civil na pátria terrena. Incluídos na cidadania celeste, temos o compromisso em viver sinais dela aqui neste mundo, como Cristo o fez. Ele serviu a Deus e não aos seus desejos e vontades. Ele sujou seus pés de poeira, andando de casa em casa, vila em vila, cidade em cidade para perdoar pecados, curar os doentes, levar o entendimento da palavra de Deus, chamar para o serviço ao próximo, saciar a fome de pão, curar os cegos, coxos, desprezados e quebrar modelos de exclusão. De tanto se comprometer por amor a Deus, foi capaz de pregar o Reino de Deus com o sacrifício da própria vida. Ele mostrou sinais do Reino de Deus que há de vir. No Reino de Deus não há injustiças, armas, guerras, mortes, agressão, exclusão e negação do direito à vida. Jesus viveu como pacifista. Jesus mostrou e viveu uma cultura de paz. O nosso compromisso é com uma cultura de paz entre as pessoas, grupos e pátrias.
O nosso compromisso com a pátria terrena não é segurar bandeiras de partidos políticos, entorpecer consciências, eliminar a ética cristã para dar lugar às ideologias construídas por grupos humanos para manipular pessoas por interesse em saciar a sua sede de poder e riqueza. Nossas convicções políticas, econômicas e ideológicas, como pessoas nesta pátria, são limitadas pela cidadania celeste. O limite é o amor ágape, a inclusão e a comunhão que Jesus ensinou. Ele ainda nos deu os sacramentos como aperitivo da pátria celeste que há de vir. A responsabilidade cristã nos compromete a ouvir, pensar, refletir e a refazer a nossa própria opinião, quando nos confrontamos com opiniões, pessoas e culturas diferentes da nossa.
Se não agirmos neste mundo com a ideologia celeste, estaremos contribuindo para a situação de intolerância, agressividade e consequente aprofundamento da crise de sentido do que fazemos e queremos neste mundo. Quanto mais contribuirmos com a crise na pátria terrena, mais longe estaremos da pátria celeste.
Viver as duas pátrias com os ensinamentos de Jesus sendo aplicados em todas as áreas de nossas vidas é o melhor caminho para dizermos juntos para a nossa dupla cidadania: Pátria amada, idolatrada, salve, salve!
Pastor Carlos E. M. Bock – Pastor Sinodal