Até aqui nos trouxe Deus…

No início de 2020, o Espírito Santo de Deus me conduzia a Porto Alegre para assumir o ministério pastoral na Comunidade São Marcos. Daquela data para cá enfrentamos, como sociedade, a pandemia de coronavírus, o temporal no mês de janeiro na capital, e, recentemente, a enchente que acometeu todo o estado do Rio Grande do Sul. O dito popular “a vida é uma caixinha de surpresas” parece nunca ter feito tanto sentido.

Em meio a todos estes eventos que afetam a sociedade e nossas comunidades, chegamos ao ano em que celebramos os duzentos anos de Presença Luterana em nosso país. Em 1824, os primeiros imigrantes aportaram no Brasil munidos com suas bíblias, hinários e catecismo menor. A Proclamação da República aconteceria apenas em 1889. Nossos antepassados viveram no Brasil Império e enfrentaram desafios severos quanto à manutenção da sua fé evangélica. Templos não tinham sinos, nem torres. A língua alemã fora proibida e os cultos necessariamente precisariam acontecer em língua portuguesa. Se a nossa geração pensa viver o momento mais desafiador da história, basta alguns minutos de leitura de um bom livro de história que perceberemos que a todo tempo a humanidade lidou com suas mazelas.

O conhecido canto “Até aqui me trouxe Deus” – LCI 470, escrito por Ämilie Juliane Schwarzburg-Rudolstadt, fora traduzido e costuma ser contemplado nas celebrações de nossas comunidades. Sua letra fala, por meio de três estrofes, da companhia de Deus diante das adversidades da jornada da vida. A primeira estrofe fala deste auxílio e socorro presente; a segunda do louvor e da gratidão, olhando para o passado, e, por fim, a terceira estrofe fala do porvir na expressão de que nossa confiança deve estar em Deus.

Ao celebrarmos o bicentenário, devemos olhar para trás com gratidão e alegria. A fé evangélica de confissão luterana se consolidou em um Brasil Império que possuía uma denominação oficial. Hoje, temos a possibilidade ter templos com torres, sinos, e cantar hinos em alemão sem medo. Porém, os desafios não param de chegar. Pandemia, temporais e enchentes. A igreja, como no passado, continua a ser local de refúgio e segurança.

O convite é para que façamos de nossas comunidades espaços onde possamos experimentar exatamente o que as três estrofes do canto representam: reconhecimento do cuidado de Deus, gratidão pela história consolidada e segurança e auxílio para o que virá. Que o mês de julho, especialmente o dia 25, seja oportunidade para encher o coração de gratidão pelo cuidado para com o seu povo. Com coragem e entusiasmo vamos planejar e viver os próximos duzentos anos!

P. Renan Schlemper – Ministro na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana São Marcos em Porto Alegre