Em 200 anos, o que dirão de nós?

O legado dos 200 anos da Presença Luterana no Brasil

Tomou, então, Samuel uma pedra, e a pôs entre Mispa e Sem, e lhe chamou Ebenézer, e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor.1 Sm 1.7 

Este versículo faz parte dos textos bíblicos que contam a saga da caminhada do povo hebreu na saída da escravidão no Egito. A conclusão de Samuel é que Deus esteve junto. Sem ele, não teriam chegado à terra prometida. Foram 40 anos de sofrimento e perdas de vidas. Até o grande líder Moisés morreu no caminho.

As pessoas que imigraram da Europa nos legaram a história da IECLB.   As condições de viagem foram péssimas. Muitas pessoas ficaram pelo caminho e foram sepultadas no mar. Sabiam que a viagem era sem volta. A celebração dos 200 anos da presença luterana no Brasil é o testemunho de que foi a fé que garantiu a existência dos nossos antepassados em todos os momentos da viagem e do assentamento nesta terra brasileira. Uniram-se pelo espírito comunitário, o associativismo e a fé. Trouxeram junto a Bíblia, hinário, instrumentos musicais e pequenas lembranças dos que ficaram para trás. A certeza de que o Senhor os guiou, fez com que nascesse no Brasil uma Igreja de Jesus Cristo, a IECLB.

As e os imigrantes chegados ao sul do Brasil no ano de1824 lidaram com a escassez de alimentos e a falta de habitações. Viveram uma cidadania de 2ª classe e tiveram problemas de disputas internas nas associações que criaram para construir escolas e igrejas.

A comunicação com os familiares na distante Europa era precária e demorada. A saudade do que ficou para trás perdura ainda em pessoas bem idosas. Sentem saudade da pátria ancestral que não conheceram. Ouviram histórias que foram transmitidas de uma geração para outra.

E agora? O que contarão de nós que vivemos este tempo? Dirão que houve um povo que tinha muita fé em Deus? Não enfrentaram escassez de alimentos, proteção, cidadania de 2ª classe e saudade. Dirão no final dos próximos 200 anos que viviam aqui pessoas que enfrentaram avanços tecnológicos absurdos, rapidez nas mudanças morais, extremismos ideológicos, excesso de informações, concorrência religiosa? 

Uma questão que se coloca para nós hoje, lideranças herdeiras do Sínodo Riograndense, o primeiro Sínodo a se constituir no Brasil, unindo comunidades dispersas por este Rio Grande do Sul, é: Como falarão de nós daqui a 200 anos? Talvez digam que existiu uma igreja formada por descendentes de imigrantes europeus até o ano tal.. E depois, desapareceu? Conseguiremos fazer a travessia e legar às gerações futuras uma Igreja de Jesus Cristo no Brasil? 

Podemos dizer no ano de 2024 que até aqui nos trouxe Deus! Mas, o nosso legado, aquilo que fazemos hoje, gerará uma igreja de Jesus Cristo que vai persistir até o ano de 2224? Como ela será?  Poderão dizer como nós: até aqui nos trouxe Deus?

É preciso sonhar, planejar, trabalhar, crendo que dirão de nós no ano de 2224 que perseveramos e deixamos um grande legado. Tenhamos a certeza de que a fé em Jesus Cristo e a confiança em Deus nos levará para o futuro. E, a Igreja de Jesus Cristo continuará a missão dada por ele de acolher, ensinar, servir, amar e cuidar da vida! Confiamos na promessa de Jesus que está em Mateus 28.20b diz: Eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.

P. Carlos E. M. Bock – Pastor Sinodal